A úlcera indolente

A úlcera indolente

 

Os gatos são comumente afetados por úlceras indolentes, podendo estas lesões aparecer no lábio superior e serem circunscritas e uni ou bilaterais.

Inicialmente apresenta-se como uma úlcera pequena, eritematosa e com crosta, pode evoluir aumentado de tamanho, tornando-se uma área vermelha-acastanhada, alopécica, brilhante, com edema e bordos marcados. Esta pode ser cutânea ou muco cutânea, podendo também estar presente na cavidade oral.

O centro de lesão pode apresentar áreas de necrose, com pontos amarelos e brancos característicos. Em casos de agravamento as erosões podem aumentar de tamanho e deformar o lábio ou a face do animal.

As formas cutânea e mucocutânea caracterizam-se por lesões únicas, formando placas lineares ou tumefações papulares, nodulares a ovais, firmes ou edematosas, bem definidas, elevadas, com coloração que pode variar de eritematosa e amarelo alaranjada a salmão. É comum ter áreas de alopecia, mas quando iniciais, as lesões ainda podem conter pelos. Também pode afetar as almofadas digitais com crostas, ulceração focal, alopecia interdigital e eritema, causando dor e claudicação nos animais acometidos.

A úlcera indolente pode ter como etiologias trauma mecânico ou por excesso de lambedura.

Normalmente estas lesões são assintomáticas, não causando dor e prurido. Porém, é importante iniciar o tratamento assim que são observadas, pois podem eventualmente evoluir para neoplasias, mais comumente carcinoma epidermóide que é, inclusive, um dos diagnósticos diferenciais, além de outras doenças.

É necessário um exame citológico e histológico das lesões compatível com ulceração indolente. Deve-se detetar qual a etiologia das úlceras de forma a iniciar o tratamento (Mothé, G., et all, 2020).

No exame citológico espera-se um infiltrado eosinofílico intenso na pele e depósito de detritos granulares amorfos. Também pode ser detetada eosinofilia periférica no hemograma.

O prognóstico destas lesões é normalmente favorável, contudo é imprescindível detetar a etiologia primária para que o tratamento seja eficaz e não existir recidivas (Mothé, G., et all, 2020).

Relativamente ao caso apresentado à consulta, o gato apresentava úlcera com desconforto e dor à palpação com alopecia ao seu redor, edemaciada e com perda da pigmentação da almofada palmar.

O aspeto macroscópico da úlcera e a sua manifestação clínica levou à consideração médica do Complexo Granuloma Eosinofílico Felino, nomeadamente à Úlcera Indolente.

Foram realizados exames complementares de diagnóstico, a Citologia da Úlcera e o hemograma foram inconclusivos para o caso.

Foram prescritas medicações para o tratamento com antibiótico, anti-inflamatório e um protetor gástrico e bucal, enquanto a tutora aguarda resultados da citologia.

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