A Visão na Perspetiva das Cobras

A Visão na Perspetiva das Cobras


 

A visão das cobras é mais desenvolvida em cobras arborícolas do que em cobras escavadoras e algumas espécies aquáticas que vivem em águas turvas. As cobras, apresentam um globo ocular pequeno, de forma esférica, com uma córnea relativamente grande, com ausência da membrana nictitante e não possuem ossículos esclerais; em vez disso têm uma esclera inteiramente fibrosa. Outra característica interessante é que todas as cobras e várias famílias de lagartos, não têm pálpebras, possuem sim um escudo ocular que resultou da fusão das pálpebras e que confere uma proteção transparente sobre a superfície da córnea, desempenhando uma função semelhante às pálpebras. Este escudo ocular é eliminado juntamente com as escamas da pele na fase de ecdise, e, durante este período torna-se edematoso e opaco.

A córnea, por sua vez, é fina e possui um epitélio de apenas algumas camadas de células uma vez que não precisa de ter função protetora, já que esta é assumida pelo escudo ocular. A órbita ofídica tem apenas uma glândula, a glândula de Harder, que segrega um fluido seromucoso no espaço entre a camada ocular e a córnea, que é então drenado pelo ducto nasolacrimal.
A forma da pupila varia consoante o modo de vida e o habitat em que a cobra se insere, podendo ser redonda, elíptica ou até horizontal como se verifica em algumas espécies arborícolas. Sabe-se que a maioria dos répteis focaliza o olho usando os músculos do corpo ciliar para alterar a curvatura da lente, no entanto, a cobra tem um corpo ciliar reduzido e por isso depende do movimento dos músculos das íris.

As cobras possuem ambos os tipos de células fotorreceptoras na retina (cones e bastonetes). Cobras diurnas como a cobra liga, têm visão dicromática ou tricromática, com uma retina rica em cones que fornecem uma visão de cores e possuem uma pupila arredondada, enquanto nas cobras noturnas dominam os bastonetes, possuindo pupilas em forma de fenda. Estas diferenças de atividade em diferentes níveis de luz são refletidas por todo o olho e não apenas na retina. A coloração dos olhos também mostra muita variação, por vezes está relacionada com tornar o olho impercetível.

Na maioria das cobras, os olhos estão posicionados lateralmente permitindo um campo de visão quase panorâmico, todavia, em algumas cobras aquáticas ou semiaquáticas, estes estão posicionados mais acima na cabeça para que possam ficar menos visíveis para predadores, visto que desta forma não precisarão de projetar tanto a cabeça acima do nível da agua para visualizar o meio ao redor. Por outro lado, nas cobras escavadoras ou do deserto, os seus olhos estão posicionados dorsalmente na face. A visão deste ser vivo é binocular, ajudando assim na perceção da profundidade e da distância sendo esta especialmente bem desenvolvida em espécies de cobras arborícolas, que devem ser capazes de avaliar distancias e movimentos durante a captura de presas.

Bibliografia / Webgrafia
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